quarta-feira, 31 de agosto de 2011

"Também nos desajeitava o medo que o pinto tinha de nós (...) a cada piar, reduzia-se a não fazer nada (...) Mas nos meninos havia uma indignação silenciosa, e a acusação deles é que não fazíamos nada pelo pinto ou pela humanidade. A nós, pai e mãe, o piar cada vez mais ininterrupto já nos levara a uma resignação constrangida: As coisas são assim mesmo. Só que nunca tínhamos contado isso aos meninos, tínhamos vergonha; e adiávamos indefinidamente o momento de chamá-los e falar claro que as coisas são assim"

Clarice Lispector. A Legião Estrangeira. In: A Legião Estrangeira
"Pensei em você. Eram exatamente três da tarde quando pensei em você. Sei porque sacudi a cabeça como se fosse uma tontura dentro dela"

Caio Fernando Abreu. Anotações Sobre um Amor Urbano. In: Caio 3D

"Nos perderemos entre monstros
Da nossa própria criação.
...
Ficaremos acordados
Imaginando alguma solução.
Prá que esse nosso egoísmo,
Não destrua nosso coração
"
"Que iria acontecer? Tomás desviou o olhar para o chão. Pressentia a cena e com que nitidez: com naturalidade Roberto a levaria para a varanda e ambos se debruçariam no gradil. De dentro da casa iluminada, os sons do piano. E de fora, no terraço deserto, os dois muito juntos se deixariam ficar olhando a noite. Conversariam? Claro que sim, mas só no primeiro momento. Logo atingiriam aquele estado em que as palavras são demais. Quietos e calados na sombra. Por quanto tempo? Impossível dizer, mas o certo é que ficariam sozinhos uma parte da festa, apoiados no gradil dentro da noite escura. Só os dois, lado a lado, em silêncio. O braço dele roçando no dela.
Seria triste pensar, por exemplo, que enquanto ele ai apodrecer na terra ela caminhava ao sol de mãos dadas com outro?"

Lygia Fagundes Telles. As Pérolas. In: Antes do Baile Verde

"A cidade está louca, você sabe. A cidade está pobre, você sabe. Como posso gostar limpo de você no meio desse doente pobre louco? Urbanóides cortam sempre o meu caminho à procura de cigarros, fósforos, sexo, dinheiro, palavras e necessidades obscuras que não chego a decifrar em seus olhos semafóricos"

Caio Fernando Abreu. Anotações Sobre um Amor Urbano. In: Caio 3D

terça-feira, 30 de agosto de 2011

"Entre os engarrafamentos do trânsito, as pessoas enlouquecidas e a paranóia à solta pela cidade, no fim deste dia encontrar você que me sorri, que me abre os braços, que me abençoa e passa a mão na minha cara marcada, no que resta de cabelos na minha cabeça confusa, que me olha no olho e me permite mergulhar no fundo quente da curva do teu ombro"


Caio Fernando Abreu. Anotações Sobre um Amor Urbano. In: Caio 3D
"Descalça, seminua e radiosa como se estivesse debaixo do sol. Tanta energia meu Deus. Havia nela energia em excesso, ai!a exuberância dos animais jovens, cabeludos demais, dentes de mais, gestos demais, tudo em excesso (...) podia quebrar uma perna. Mas não quebrava, naquela idade os ossos deviam ser de aço"

Lygia Fagundes Telles. A Chave. In: Antes do baile verde.
"Perto da minha a boca se entreabre lenta, úmida, cigarro, chiclete. conhaque, vermelha, os dentes se chocam, leve ruído, as línguas se misturam. Naufrago em tua boca, esqueço, mastigo tua saliva, afundo. Escuridão e umidade, calor rijo do teu corpo contra a minha coxa, calor rijo do meu corpo contra a tua coxa"

Caio F. Abreu. Anotações sobre uma amor urbano. In: Caio 3D.
"Se você me ama mesmo, eu disse, suba então naquela mesa e grite com todas as forças, vocês são todos uns cornudos, vocês são todos uns cornudos! e depois desça da mesa e saia mas sem correr. Ele me deu o saxofone para segurar enquanto eu fugia rindo, não, não, eu estava brincando, isso não! já na esquina ouvi seus gritos em pleno bar, 'Cornudos, todos cornudos' "

Lygia Fagundes Telles. Apenas um Saxofone. In: Antes do Baile Verde.
"Poucos querem o amor, porque amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que se voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: Amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensa que era amor. E não é prêmio, por isso não envaidece" 

Clarice Lispector. O Ovo e a Galinha. In: A Legião Estrangeira
"Não diz nada, você não diz nada. Apenas olha para mim, sorri. Quanto tempo dura? [...] você não me conta seu desejos. Sorri com os olhos, com a mesma boca que mais tarde, um dia, depois daqui, poderá me dizer: Não"

Caio F. Abreu. Anotações Sobre um Amor Urbano. In: Caio 3D. 

"Pelas escadarias da avenida deserta, lata de coca-cola largada na porta da igreja, aqui parece que o tempo não passou, quero te mostrar um vitral, esta sacada, aquele balcão como de Lorca, entremeados de rosa, quero dividir meu olhar, desaprendi a ser sozinho"


Caio Fernando Abreu. Anotações sobre um amor urbano. Caio 3D: Essencial da década de 70.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

"Mas uma amizade sincera queria a sinceridade mais pura. À procura desta, eu começava a me sentir vazio"

Clarice Lispector. Uma Amizade Sincera. In: A Legião Estrangeira
"Há muito tempo estava acostumado a apenas consumir pessoas como se consome cigarros, a gente fuma, esmaga a ponta do cigarro, depois vira na privada, puxa a descarga pronto, acabou"

Caio Fernando Abreu. Anotações sobre um amor urbano. In: Caio 3D: O essencial da década de 70.

sábado, 27 de agosto de 2011

"Mas já não me importo com o que pensa, ele e mais a cambada toda que me cerca, opinião alheia é este tapete, este lustre, aquele retrato. Opinião alheia é esta casa com os santos varados por mil cargas.
Mas antes eu me importava e como. Por causa dessa opinião alheia tenho hoje um piano de cauda, tenho um gato siamês com uma argola na orelha, tenho uma chácara com piscina e nos banheiros, papel higiênico com florinhas douradas"

Lygia Fagundes Telles. Apenas um Saxofone. In: Antes do Baile Verde
"Mas durmo o sono dos justos por saber que minha vida fútil não atrapalha a marcha do grande tempo. Pelo contrário: Parece que exigido de mim que eu seja extremamente fútil, é exigido de mim inclusive que eu durma como um justo. Eles me querem ocupada e distraída, e não lhes importa como. Pois com a minha atenção errada e minha tolice grave, eu poderia atrapalhar o que se está fazendo através de mim. É que eu própria, eu propriamente dita, só tenho servido para trabalhar"

Clarice Lispector. O ovo e a galinha. In: Legião Estrangeira. 

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

"No vácuo de mim eu me despenco. Porque seria preciso também abdicar de mim mesmo para novamente reconstruir-me. Tornar a escolher os gestos, as palavras, em cada momento decidir qual dos meus eus assumir. Já esfacelei meu ser, já escolhi as porções que me são convenientes"

Caio F. Abreu. Itinerário. In: Caio 3D.

O Amor e a Loucura

No amor tudo é mistério: suas flechas e sua aljava, sua chama e sua eterna infância.
Mas por que o amor é cego?
Acontece que num certo dia o Amor e a Loucura brincavam juntos. Aquele ainda não era cego. Surgiu entre eles um desentendimento qualquer. Pretendeu então o Amor que se reunissem para tratar do assunto o conselho dos deuses. Mas a Loucura impaciente, deu-lhe uma pancada tão violenta que lhe privou a visão.
Vênus, mãe e mulher, pôs-se a clamar por vingança, aos gritos. E diante de Júpiter. Nêmesis – a deusa da vingança – e de todos os juízes do inferno, Vênus exigiu que aquele crime fosse reparado. Seu filho não podia ficar cego.
Depois de estudar detalhadamente o caso, a sentença do supremo tribunal celeste consistiu em condenar a Loucura a servir de guia ao Amor.

Jean De La Fontaine.O Amor e a Loucura. In: Os Melhores Contos de Loucura.

"Tenho iate, tenho um casaco de vison prateado, tenho uma coroa de diamantes, tenho um rubi que esteve incrustado no umbigo de um xá famosíssimo, até á pouco eu sabia o nome desse xá. Tenho um velho que má dinheiro, tenho um jovem que me dá gozo e ainda por cima tenho um sábio que me dá aulas sobre doutrinas filosóficas com um interesse tão platônico que logo na segunda aula já se deitou comigo"

Lygia Fagundes Telles. Apenas um saxofone. In: Antes do Baile verde.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

"E de repente nos ferimos. Com a boca. Senti seus lábios nos meus, os dentes se chocando, as mãos que seguravam meu rosto, investigando meus traços, eu nascia para dentro, quase gritava, tentávamos desvendar um ao outro mas não íamos além de tentativas, que já fazia angústia em sua mãos como espinhos, subindo por meu corpo inteiro, busca tensa [...] nos desvendávamos com a fúria dos que antecipadamente sabem que não vão conseguir jamais"


Caio F. Abreu. Inventário do Ir-remediável. In: Caio 3D: O essencial da década de 70.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

"A última aula os deixava sem futuro e sem amarras, cada um desprezando o que na casa mútua de ambos as famílias lhe asseguravam como futuro e amor e incompreensão. Sem o dia seguinte e sem amarras, eles estavam pior do que nunca, mudos, de olhos abertos"

Clarice Lispector. Mensagem. In: Legião Estrangeira. 

CANÇÃO DO AMOR IMPREVISTO

"Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar. 
[...]"

Mário Quintana
"[...]
vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome..."

terça-feira, 23 de agosto de 2011



‎"Não leve a mal,eu só queria poder ter outra filosofia,
mas não nasci pra conversar com rei"
Banda: Apanhador Só - Um Rei e o Zé

"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto te dar, tanto receber. Quis tanto precisar, sem exigência. E sem solicitação, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha era seu."

Caio F. Abreu. Inventário do ir-remediável. In: Caio 3D: O essencial da década de 70
"Os mais felizes são precisamente aqueles que vivem, dia a dia, como as crianças, passeando, despindo e vestindo as bonecas; aqueles que rondam, respeitosos, em torno da gaveta onde a mamãe guarda os bombons, e, quando conseguem agarrar, enfim, as gulodices cobiçadas, devoram-nas com sofreguidão e gritam: 'quero mais!' Eis a gente Feliz!"

Werther.Johann Wolfgang Von Goethe 
"Na verdade, o que seria Poesia, essa palavra constrangedora? Seria encontrarem-se quando, por coincidência, caísse uma chuva repentina sobre a cidade? Ou talvez, enquanto tomavam um refresco, olharem ao mesmo tempo a cara de uma mulher passando na rua? Ou mesmo encontrarem-se por coincidência na velha noite de lua e vento? Mas ambos haviam nascido com a palavra poesia já publicada com o maior despudor nos suplementos de domingo dos jornais. Poesia era palavra dos mais velhos." 

Clarice Lispector. Mensagem. In: Legião Estrangeira

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"Talvez estivessem tão prontos para se soltarem um do outro como uma gota de água quase a cair"

Clarice Lispector_ Mensagem. In:A Legião Estrangeira.
"De repente outra vez iam existir essas coisas duras que vejo da janela na televisão no cinema na rua em mim mesmo e que eu ia como sempre sair caminhando sem saber aonde ir sem saber onde parar onde pôr as mãos e os olhos e ia me dar aquela coisa escura no coração e eu ia chorar chorar durante muito tempo sem ninguém ver é verdade"

Caio F. Abreu. A quem interessar possa. In: Caio 3D: Essencial da década de 70.
Nunca conheci quem tivesse levado porrada. 
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

[...] 

Arre, estou farto de semideuses! 
Onde é que há gente no mundo? 
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? 
Poderão as mulheres não os terem amado, 
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! 
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos
"Não há porque chorar por um amor que já morreu, 
Deixa pra lá, eu vou, adeus.
Meu coração já se cansou de falsidade"


Santa Chuva_ Maria Rita

POEMINHA SENTIMENTAL



O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

Mário Quintana

"É, mas tenho ainda muita coisa pra arrumar
Promessa que me fiz e que ainda não cumpri
[...]
Coisas minhas talvez você nem queira ouvir"



Pra Rua Me Levar_ Ana Carolina

"Assim continuaram a se procurar, vagamente orgulhosos de serem diferentes dos outros, tão diferentes a ponto de nem se amarem. Aqueles outros que não faziam nada senão viver (...) Eles apenas concordavam no único ponto que os unia: O erro que havia no mundo e a tácita certeza de que se eles não o salvassem seriam traidores

Clarice Lispector

sábado, 20 de agosto de 2011


"Podia falar quando te vi pela primeira vez sem jeito de repente te vi assim  como se não fosse ver nunca mais e seria bom que eu não tivesse visto nunca mais porque de repente vi outra vez e outra e outra e enquanto eu te via nascia um jardim  nas minhas faces não me importo de ser vulgar não me importa o lugar-comum dizer o que outros já disseram  não tenho mais nada a resguardar"

Caio Fernando Abreu. A quem interessar possa. In. Caio 3D: O essencial da década de 70.
"Uma vez ou outra, ele ainda sentia aquela incrédula aceitação da coincidência: Ele, tão original, ter encontrado alguém que falava a sua língua! Aos poucos compactuavam. Bastava ela dizer, como numa senha, "passei ontem uma tarde ruim" e ele sabia com austeridade que ela sofria como ele sofria. Havia tristeza, orgulho e audácia em ambos"

Clarice Lispector_ In: A bela e a Fera.
"Que coisa maluca a distância,a memória.Como um filtro seletivo, vão ficando apenas as coisas e as pessoas que realmente contam"

Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

"O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia
As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar."
Leoni_ Fotografia


"Quem sabe o que é ter e perder alguém
Sente a dor que senti
Quem sabe o que é ver quem se quer partir
E não ter pra onde ir"

L.H

"Bem mais que o tempo
Que nós perdemos
Ficou prá trás
Também o que nos juntou..."

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"...E foi assim que no grande parque do colégio lentamente comecei a aprender a ser amada, suportando o sacrifício de não merecer, apenas para suavizar a dor de quem não ama. Não, esse foi somente um dos motivos. É o que os outros fazem outras histórias. Em algumas foi do meu coração que outras garras cheia de duro amor arrancaram a flecha farpada, e sem nojo de meu grito"

Clarice Lispector. 

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

"E mais afundava na inexistência, concebendo-me tréguas, adiando o momento em que eu própria buscaria a vida, para descobrir sozinha, através de meu próprio sofrimento"

Clarice Lispector. In: A Bela e a Fera
"Ando bem, mas um pouco aos trancos. Como costumo dizer, um dia de salto sete, outro de sandália havaiana" Caio F. Abreu

quinta-feira, 11 de agosto de 2011


"Caminhando de inesperado a inesperado... Nas minhas corridas eu aprendera a me levantar das quedas mesmo quando me marcara"

Clarice Lispector. In: A Bela e a Fera

quarta-feira, 10 de agosto de 2011


"Para que te servem essas unhas longas? Para te arranhar de morte e para arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem. Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho de doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? Para ficarmos de mãos dada, pois preciso tanto, tanto, tanto- uivaram os lobos, e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem um no outro para dormir."

Clarice Lispector
"Abre a janela agora
Deixa que o sol te veja
É só lembrar que o amor é tão maior
Que estamos sós no céu
Abre as cortinas pra mim
Que eu não me escondo de ninguém
O amor já desvendou nosso lugar
E agora está de bem..."



Conversa de Botas Batidas_ Los Hermanos 

terça-feira, 9 de agosto de 2011

"Viu-se conversando com ela, escondendo com secura o maravilhamento de enfim poder falar sobre coisas que realmente importavam; e logo com uma moça! conversavam também sobre livros, mal podiam esconder a urgência que tinham de pôr em dia tudo em que nunca antes haviam falado"

Clarice Lispector

O Ginógrafo

“... E foi na batata da perna de Tereza que escrevi as minhas primeiras palavras na língua nativa. No princípio ela até gostou, ficou lisonjeada quando lhe disse que estava escrevendo um livro nela, depois me recusava, porque só procurava seu corpo para escrever. O livro já ia pelo sétimo capítulo quando me abandonou, sem ela perdi o fio do novelo, passava os dias catatônicos diante de uma folha de papel em branco. Experimentei escrever em mim mesmo, mas não era tão bom, então fui procurar as putas, pagava para escrever nelas e talvez pagasse mais que o devido, pois elas simulavam orgasmos que roubavam a minha concentração. Passei a assediar estudantes, elas mostravam meus escritos às colegas que muito apreciavam e me pedia que escrevesse um livro nelas; moças entravam e saiam na minha vida, o meu livro se dispersava por aí, cada capítulo a voar para um lado. Foi quando apareceu aquela que se deitou na minha cama, que me ensinou a escrever de trás pra diante. Zelosa de meus escritos, só ela sabia ler mirando-se no espelho, e de noite apagara o que de dia fora escrito nela, pra que eu jamais cessasse de escrever. Engravidou de mim, e na sua barriga o livro foi ganhando novas formas, e foram dias, noites trancado na agência, até que eu cunhasse, no limite das minhas forças, a frase final. E a mulher amada, cuja o leite eu já sorvera me fez beber da água com que eu havia lavado sua blusa.”

-Texto retirado do filme Budapeste - 

domingo, 7 de agosto de 2011

" [...]
Ouve o teu coração
Batendo travado

Por ninguém e por nada
Na escuridão do quarto 
Ouve o teu coração
Ao cair da tarde
Ouve aquela canção
Que não toca no rádio"
[...]"

 *Mulher sem Razão. Cazuza

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

"Aprendi com ele que palavrão em boca de mulher é como lesma em corola de mesa. Sou mulher, logo, só posso dizer palavrão em língua estrangeira, se possível, fazendo parte de um poema. Então as pessoas em redor poderão ver como sou autêntica e ao mesmo tempo erudita. Uma puta erudita, tão erudita que se quisesse podia dizer as piores bandalheiras em grego antigo, o xenofonte sabe grego antigo"


Lygia Fagundes Telles_ Apenas um Saxofone_ In: Antes do Baile Verde