terça-feira, 9 de agosto de 2011

O Ginógrafo

“... E foi na batata da perna de Tereza que escrevi as minhas primeiras palavras na língua nativa. No princípio ela até gostou, ficou lisonjeada quando lhe disse que estava escrevendo um livro nela, depois me recusava, porque só procurava seu corpo para escrever. O livro já ia pelo sétimo capítulo quando me abandonou, sem ela perdi o fio do novelo, passava os dias catatônicos diante de uma folha de papel em branco. Experimentei escrever em mim mesmo, mas não era tão bom, então fui procurar as putas, pagava para escrever nelas e talvez pagasse mais que o devido, pois elas simulavam orgasmos que roubavam a minha concentração. Passei a assediar estudantes, elas mostravam meus escritos às colegas que muito apreciavam e me pedia que escrevesse um livro nelas; moças entravam e saiam na minha vida, o meu livro se dispersava por aí, cada capítulo a voar para um lado. Foi quando apareceu aquela que se deitou na minha cama, que me ensinou a escrever de trás pra diante. Zelosa de meus escritos, só ela sabia ler mirando-se no espelho, e de noite apagara o que de dia fora escrito nela, pra que eu jamais cessasse de escrever. Engravidou de mim, e na sua barriga o livro foi ganhando novas formas, e foram dias, noites trancado na agência, até que eu cunhasse, no limite das minhas forças, a frase final. E a mulher amada, cuja o leite eu já sorvera me fez beber da água com que eu havia lavado sua blusa.”

-Texto retirado do filme Budapeste - 

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