quinta-feira, 31 de março de 2011


“Andei amando loucamente, como há muito tempo não acontecia. De repente a coisa começou a desacontecer. Bebi, chorei, ouvi Maria Bethânia, fumei demais, tive insônia e excesso de sono, falta de apetite e apetite em excesso, vaguei pelas madrugadas, escrevi poemas (juro). Agora está passando: um band-aid no coração, um sorriso nos lábios – e tudo bem. Ou: que se há de fazer.”


Caio Fernando Abreu



"O álcool é um veneno, mas tem certas coisas dentro de mim que eu preciso matar."


[...]

Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada." 

Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. 



Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que... 

_Machado de Assis[ in: Dom Casmurro]

"Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas... Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo" 


_Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 9 de março de 2011

[...] Queria dançar sobre os canteiros, cheio de uma alegria tão maldita que os passantes jamais compreenderiam. Mas não sentia nada. Era assim, então. E ninguém me conhecia.
Subi correndo no primeiro bonde, sem esperar que parasse, sem saber para onde ia. Meu caminho, pensei confuso, meu caminho não cabe nos trilhos de um bonde.

(Caio Fernando Abreu, in: Morangos Mofados)

quarta-feira, 2 de março de 2011

Mostrei minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo. Responderam-me: “Por que é que um chapéu faria medo?”

Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações. Meu desenho nº 2 era assim.
As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas, e dedicar-me à geografia, à história, ao cálculo, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor.
[É sempre assim, as pessoas estão aí pra tentar nos fazer desistir] ¬¬' 
_Trecho inicial do Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry

"Tentei não fazer nada na vida que envergohasse a criança que fui"

(Saramago)

terça-feira, 1 de março de 2011

À Lorenna

“Mas eu não estava seguro. Lembrava-me da raposa. A gente corre risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...”




O Pequeno Príncipe