sábado, 30 de julho de 2011

"Onde começava o meu despertar para o mundo? Tudo se entrelaçou, confundiu-se dentro de mim e eu não saberia precisar se meu desassossego era desejo de Daniel ou a ânsia de procurar o mundo descoberto. Porque despertei simultaneamente mulher e humana"


Clarice Lispector_ Obsessão_ In:A Bela e Fera
"Zig Braga, isso apenas mostra como se identificou com o espírito da casa em que nasceu, viveu, mordeu, latiu, abanou o rabo e morreu [...] Era valente, um bom Braga que de seu natural não é povo caçador; menos eu, que ando por este mundo a caçar ventos de melancolias"


Rubem Braga In: A casa do Bragas: Memórias de Infância. 

sexta-feira, 29 de julho de 2011

"Penso em muitas coisas aqui, neste chuvoso domingo, olhando um pé de Romã no quintal de uma cidade estranha; em mais coisas do que conviria lembrar na manhã de um domingo chuvoso, depois de tudo o que houve, e o que não houve, no tempo que passou"

Rubem Braga
"Voltei para casa atormentado pelo diabinho que soprava no ouvido as respostas devastadoras que não demos na hora certa"

Gabriel García Márquez


"Faça o que você fizer, neste ano ou em cem, você estará morto para sempre e jamais"
"Compreendi com horror que se envelhece mais e pior nos retratos que na realidade"

Gabriel García Márquez

"Encontrei pedaços esparsos de mim. ali um braço, beiçola, baço, aqui laço de fita negra na tíbia, cúbito, rádio da vida, 'invídia' todo reluzente, oh, eis-me aqui"


Hilda Hilst

"O Sol batia em cheio em nós, enquanto o vento levantava as tiras de sua camisa rasgada. Vi nossa sombra no muro, as tiras se abrindo como asas. Enlaçou-me mais fortemente, encostou o queixo no meu ombro e teve um leve soluço 'que bom que você veio me buscar' "

Lygia Fagundes Telles
"Quando meus gostos musicais entraram em crise me descobri atrasado e velho, e abri meu coração às delícias do caso"


Gabriel García Márquez

"Escritor, sim, mas aquele tipo de escritor de sucesso, convidado para festas, dando entrevista na televisão: Um escritor de cabeça baixa e calado, abrindo as mãos em garra e sem caminho"


Lygia Fagundes Telles_ Verde Lagarto Amarelo

quinta-feira, 28 de julho de 2011

"Convém que as crianças sintam um certo medo do porão; e embora pense que é medo do escuro, ou de aranhas caranguejeiras, será o grande medo do tempo, esse bicho que tudo come, esse mostro que irá tragando em suas faces negras os sapatos da criança, sua roupinha, sua atiradeira, seu canivete, as bolas de vidro, e afinal a própria criança"

Rubem Braga_ In: A casa dos Bragas: Memórias de Infância
"Sobre estar só, eu sei
Nos mares por onde andei
Devagar"


Dois Barcos: Los Hermanos
"Falta-lhe uma base física para a saudade. Tudo o que parecia eterno sumiu"

Rubem Braga
"-Quando eu era criança, gostava de comer pasta de dente. Tinha um sabor de hortelã,era ardido demais e eu chorava de sofrimento e gozo"

Lygia Fagundes Telles

"Eu só quero que você caiba

No meu colo
Porque eu te adoro cada vez mais.."


A Sua_ Marisa Monte
"A reunião de domingo em casa de meus pais, junto às primas e vizinhos, qualquer bom e animado jogo reconquistavam-me rapidamente e repunham-me na estrada larga, de novo a caminhar entre a multidão dos de olhos fechados"

Clarice Lispector_ In: A Bela e a Fera
"Encarei-o. Quando ele sorria ficava menino outra vez. Seus olhos tinha o mesmo brilho das uvas"


Lygia Fagundes Telles_ Verde Lagarto Amarelo In: [Antes do Baile Verde] 

"Devo ter confundido matiz e emoção, por isso quando te ouvi o nome me vieram adolescência e riso...eu na frente da classe, sendo alguém, ridículo, mas alguém"

Hilda Hilst


"Discretamente, enviei sinais de socorro aos amigos. Ninguém ajudou. Me virei sozinho. Isso me endureceu um pouco mais. Não foi só você, não. Foram também pessoas até mais íntimas, (…) me virei sozinho com enormes dificuldades. Não me lamuriei. Mas preciso que as pessoas saibam que isso doeu — exatamente porque algumas destas pessoas (…) importam para mim."

Caio Fernando Abreu
"Era mesmo Dezembro que voltava pontual com seus céus diáfanos...não era estranho então que as rajadas de Dezembro nos permitisse encontrar por suas vozes os amigos espalhados pelos bordéis remotos"

Grabriel García Márquez

quarta-feira, 27 de julho de 2011

"Agora não da mesmo pra ser feliz, é impossível. Mas quem disse que a gente precisa ser sempre feliz ? Isso é bobagem. Como Vinícius cantou "é melhor viver do que ser feliz". Porque, pra viver de verdade, a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, doi demaais. Mas passa. Está vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que estou falando a verdade. Eu não minto. Vai passar."

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 26 de julho de 2011


Vamos passear depois do tiroteio
Vamos dançar num cemitério de automóveis
Colher as flores que nascerem no asfalto
Vamos todo mundo...tudo que se possa imaginar
Vamos duvidar de tudo o que é certo
Vamos namorar à luz do pólo petroquímico
Voltar pra casa num navio fantasma
Vamos todo mundo... ninguém pode faltar
[...]

Pose_Engenheiros do Hawaii


"Fui vestindo a cueca, as calças, a camisa
e ia me mandando quando licinha.
por favor; não vá
eu inteiro vestido reclamei, ah, não, vou sim,
tenho horror de ficar me despindo a toda
hora"


Hilda Hilst
"O Sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança"

García Márquez

"A quem me perguntar respondo sempre com a verdade: As putas não me deram tempo para casar"

Gabriel García Márquez

"Quando ergui os olhos, o mundo era sujo"

Virginia Woolf

"Cada pessoa é um mundo, cada pessoa tem sua própria chave e a dos outros nada resolve; só se olha para o mundo alheio por distração, por interesse, por qualquer outro sentimento que sobre nada e que não é o vital; o 'mal de muitos' é consolo, mas não é solução"

Clarice Lispector

"Ainda estou sóbrio, há um vento polpudo lambendo as bochechas, não há ninguém mais na praia, só um frango negro (ou é um corvo?) e um cachorro mais triste do que a tal fita preta, ele olha igual a mim o horizonte"

Hilda Hilst

"O sumo ácido inundou-me a boca. Cuspi a semente: assim queria escrever, indo ao âmago do âmago até atingir a semente resguardada lá no fundo como um feto"

Lygia Fagundes Telles

"Me lembro de que a primeira vez que tive a notícia da existência de edifícios de apartamentos, com umas pessoas morando em cima das outras e sem precisar subir escada porque havia elevador, achei a ideia genial, e pensei comigo mesmo: 'Eu vou querer morar no último andar' mas pensei, confesso, sem nenhuma esperança, como quem pensa em fazer uma coisa que deve ser boa mas, com certeza, a gente não vai fazer, como, por exemplo, andar de balão. Como um menino pobre pensa em ser rei"

Rubem Braga In: [ A casa dos Bragas: Memória de Infância]

"Sou melhor quando sou ninguém. um bestalhão qualquer olhando uma certa Lucina. a praia está vazia. ela se foi. talvez lhe escreva uma carta"

Hilda Hilst

segunda-feira, 25 de julho de 2011


"Falava sozinho diante do espelho com a vã ilusão de averiguar quem sou. Era tal meu desvario, que em uma manifestação estudantil com pedras e garrafas tive que buscar forças na fraqueza para não me colocar na frente de todos com um letreiro que consagrasse minha verdade: Estou louco de amor"

Gabriel García Márquez  In: [ Memória de Minhas Putas Tristes]
"Quero morrer sem dizer nada, talvez porra, que merda, estou morrendo, ou só isso mesmo que saco"

Hilda Hilst


"Cara...Ontem tinha um cara do andar de cima, sabe? que tava ouvindo Adriana Calcanhotto no repeat: Devolva-me sabe? no repeat 'devolva-me, devolva-me, devolva-me...' sabe? uma hora e meia de devolva-me. Eu tava com vontade cara..de subir, bater na porta dele e dar um abraço, sabe? Porque era isso que ele devia tá precisando, de um abraço (...) Sei lá... quem não tá, né? Sabe o que eu tava pensando? Eu não sou muito diferente desse garoto que estava ouvindo Adriana Calcanhotto no repeat, às vezes eu me flagro puxando conversa com as pessoas na rua só pra  perguntar se tá tudo bem e elas me perguntarem de volta: ' Tá tudo bem, como você tá?'" 

Techo do filme .Apenas o fim.

segunda-feira, 11 de julho de 2011


"No verão havia sempre borboletas: fritilárias, rápidas; almirantes rubras sorvendo néctar e esvoaçando; alvas borboletas flutuando modestamente em torno de um arbusto como camponesas vestidas de musseline, contente por consumirem ali a vida inteira"

Virginia Woolf _ In: [Entre os Atos]
"Para acúmulo de desespero, vi através das vidraças da escola, no claro azul do céu, por cima do Morro do Livramento, um papagaio de papel, alto e largo, preso de uma corda imensa, que bojava no ar, uma coisa soberba. E eu na escola, sentado, pernas unidas, com o livro de leitura e a gramática nos joelhos"

Machado de Assis_ Conto de Escola
"Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importo com tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do zodíaco."

#Gabriel García Márquez [Memória de Minhas Putas Tristes ]
"Era bonito, inteligente, amado, conseguiu sempre fazer tudo melhor do que eu, muito melhor do que os outros, em suas mãos as menores coisas adquiriam outra importância, como que se renovavam"

Lygia Fagundes Telles
"Estava permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que eu era, não me decidia por qual de mim, toda eu é que não podia; ter nascido era cheio de erros a corrigir."

Clarice Lispector_ Os Desastres de Sofia In: A Bela e a Fera

"Aqui me vês. Dois polos
Tão distante e no entanto
Três: Eu e meus dois horizontes"

Hilda Hilst

"Pedi que se masturbasse à minha frente e ao mesmo tempo fingisse que lia. que livro devo ter nas mãos? o código penal, naturalmente. que eu gostava assim ver a mulher como se ela tivesse mesmo a sós, largadona e distraída..."

#Hilda Hilst In: [Está Sendo. Ter Sido]

"Só muito depois, tendo finalmente me organizado em corpo e sentindo-me profundamente mais garantida, pude me aventurar e estudar um pouco; antes, porém, eu não podia me arriscar a aprender, já que não sabia o que era, e com vaidade cultivava a integridade da ignorância"




Clarice Lispector_ Os desastres de Sofia_ In: A Bela e a Fera.

"Fecho os olhos. Está amanhecendo e o sol está longe, tem brisa na campina, cascata, orvalho gelado deslizando na corola, chuva fina no meu cabelo, a montanha e o vento, todos os ventos soprando. Os ventos! vazios. Imobilidade e vazio. Se eu ficar assim imóvel, respirando leve, sem ódio, sem amor, se eu ficar assim um instante, sem pensamento, sem corpo..."


Lygia Fagundes Telles [In: Antes do Baile Verde]

"Não gosto que leiam meu livro superficialmente: dá-me tanta tristeza narrar estas lembranças! já faz seis anos que meu amigo se foi com seu carneiro. Se tento descrevê-lo aqui, é justamente porque não quero esquecê-lo. É triste esquecer um amigo. Nem todo mundo tem um amigo. Eu corro o risco de ficar como as pessoas grandes, que só se interessam por números"


O Pequeno Príncipe_ Antoine de Saint-Exupéry

sábado, 9 de julho de 2011


" - Veja, Matilde, minhas mãos estão ficando da cor da tarde, tudo nesta hora vai ficando rosado"

Lygia Fagundes Telles

"A solidão tem cor, é roxo escuro e negro. é como se você fosse andando...uma vasta planície, vai andando vai andando, é tardezinha, há até uma certa euforia, um vínculo entre você e aquela extensão...de início parece que areia brilha um pouco, vai anoitecendo..."

#Hilda Hilst

"Detesto fome pobreza riscos negros num quadro, detesto Francis Bacon também, aqueles horrores que os pedentes gostam"


Hilda Hilst
"Eu choro, Hermínia, choro do velho que estou ou que me sinto, choro porque não sei a que vim, porque fiquei enchendo de palavras tantas folhas de papel... para dizer o quê, afinal? do meu medo, um medo semelhante ao medo dos animais escorraçados, e pânico e solidão, e tantas mesas tantos livros tantos objetos...esculturas, cerâmicas, caixa de prata..."

Hilda Hilst [ Está Sendo. Ter Sido]

sexta-feira, 8 de julho de 2011


"Havia luz na tessitura daquela saia, uns fiozinhos mínimos dourados, e puseste a saia, rodopiaste, e eu te abracei e imediatamente te levantei a saia. Eu fui jovem e amante um dia, Hermínia, imagina, eu fui tão fervoroso e cheio de fé...já fui alegre" 

Hilda Hilst

"Havia achado, sempre, que morrer de amor não era outra coisa além de licença poética. Naquela tarde, de regresso para casa outra vez, sem o gato e sem ela, compreendi que não apenas era possível, mas que eu mesmo, velho e sem ninguém, estava morrendo de amor"

Gabriel García Márquez In: Memória de Minhas Putas Tristes