quarta-feira, 10 de outubro de 2012


A grande dama não conta: ela murmura, fala baixinho. Aproxima-se do leitor como seus gatos, de que ela gosta tanto. [...] Não se engane com essa sinuosidade felina, felpuda. Não vá na conversa, não relaxe. Porque, quando você menos espera, as unhas retráteis aparecem e, logo depois delas, o risco na carne, o filetinho de sangue escorrendo. Nada muito profundo, mas o suficiente pra incomodar, na hora e por tempo extenso, cravadas na memória. O suficiente para se lembrar de que, nas próximas vezes, você não deve se aproximar tão desguarnecido e confiante, porque o bote pode vir, quando menos se espera, não se sabe de onde. A cada aproximação, um aprendizado, independentemente do conto que você escolha. Fique esperto! Não confie no ron-ron de Lygia Fagundes Telles. (p.181-182)

Antônio Dimas. In: Antes do Baile verde. 

sábado, 6 de outubro de 2012


E a moda? Alguém lembrava. Grandes demais os enchimentos nos ombros do tailleur, influência dos uniformes militares. “Acho um encanto os casacos com botões dourados, comprei um ontem que é igual ao de um oficial da Marinha!”, lembrou a senhora com seu casaco de lontra e a pulseira de ouro que tilintavam nervosamente. (p. 47).

Lygia Fagundes Telles. O Espartilho. In: A Estrutura da Bolha de Sabão.