sexta-feira, 23 de setembro de 2011

"E quando eu te toco me sinto feliz por dentro
É um sentimento tão forte que, meu amor.
Eu não consigo esconder..."

Tradução de I Want to hold your hand. The Beatles.
"I wanna hold your hand"


"Algo na maneira em que ela se move,
Me atrai como nenhum outro amor
Alguma coisa em seu jeito me agrada
[...]
Você me pergunta se meu amor vai crescer
Eu não sei, eu não sei
Fique por perto e você verá"

Tradução de Something. The Beatles.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011


"O que penso eu do mundo? 
Sei lá o que penso do mundo! 
Se eu adoecesse pensaria nisso"


Fernando Pessoa/ Alberto Caeiro. Há Metafísica Bastante Em Não Pensar em Nada. Quando Fui Outros. 
“Fico quieto. Primeiro que paixão deve ser coisa discreta, calada, centrada. Se você começa a espalhar aos sete ventos, crau, dá errado. Isso porque ao contar a gente tem a tendência a, digamos, "embonitar" a coisa, e portanto distanciar-se dela, apaixonando-se mais pelo supor-se apaixonado do que pelo objeto da paixão propriamente dito. Sei que é complicado, mas contar falsifica, é isso que quero dizer. E pensando mais longe, por isso mesmo literatura é sempre fraude. Quanto mais não-dita, melhor a paixão. Melhor, claro, em certo sentido que significa também o pior: as mais nobres paixões são também as mais cadelas, como aquelas que enlouqueceram Adele H., levaram Oscar Wilde para a prisão ou fizeram a divina Vera Fischer ser queimada feito Joana d'Arc por não ser uma funcionária pública exemplar”

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Amor Moderno

– Só sei que não tenho culpa, Alice. Já disse mil vezes que não pretendia romper, mas aconteceu, aconteceu. Não tenho culpa!... Ela despejou mais vinho no copo. Bebeu de olhos fechados. E ficou com a borda do copo comprimindo o lábio.
– Mas, ao menos, Eduardo... ao menos você podia ter esperado um pouco para me substituir, não podia? Não vê que foi depressa demais? Será que você não vê que foi depressa demais? Não vê que ainda não estou preparada? Hein, Eduardo?...

Lygia Fagundes Telles. A ceia. In: Antes do Baile Verde.


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A Bela e a Fera

"Bem, então saiu do salão de beleza pelo elevador do Copacabana Palace Hotel. O Chofer não estava lá. Olhou o relógio: eram quatro horas da tarde. E de repente lembrou-se: tinha dito a 'seu' José para vir buscá-la às cinco, não calculando que não faria unhas dos pés e das mãos, só massagem.
[...]
Assim achou que era maravilhoso e inusitado ficar de pé na rua - ao vento que mexia com os seus cabelos. Não se lembrava quando fora a última vez que estava sozinha consigo mesma. Talvez nunca. Sempre era ela - com outros.
[...]
Um homem sem uma perna, agarrando-se numa muleta, parou diante dela e disse:
- Moça, me dá um dinheiro para eu comer?
“Socorro!!!” gritou-se para si mesma ao ver a enorme ferida na perna do homem. “Socorre-me, Deus”, disse baixinho.
[...]
Ela espantada: como praticamente não andava na rua – era de carro de porta à porta – chegou a pensar: ele vai me matar? Estava atarantada e perguntou:
- Quanto é que se costuma dar?
- O que a pessoa pode dar e quer dar - respondeu o mendigo espantadíssimo.
[...]
Mas alguma coisa que era uma avareza de todo o mundo, perguntou:
- Quinhentos cruzeiros basta? É só o que eu tenho.
O mendigo olhou-a espantado.
- Está rindo de mim, moça?
- Eu?? Não estou não, eu tenho mesmo os quinhentos na bolsa...
Abriu-a, tirou-lhe a nota e estendeu-a humildemente ao homem, quase lhe pedindo desculpas.
O homem perplexo.
E depois rindo, mostrando as gengivas quase vazias:
- Olhe – disse ele -, ou a senhora é muito boa ou não está bem da cabeça... Mas, aceito, não vá dizer depois que roubei, ninguém vai me acreditar. Era melhor me dar trocado.
- Eu não tenho trocado, só tenho essa nota de quinhentos.
[...]
Pôs-se então a olhar para dentro de si e realmente começaram a acontecer. Só que tinha os pensamentos mais tolos. Assim: esse mendigo sabe inglês? Esse mendigo já comeu caviar, bebendo champanhe? Eram pensamentos tolos porque claramente sabia que o mendigo não sabia inglês, nem experimentara caviar e champanhe. Mas não pôde se impedir de ver nascer em si mais um pensamento absurdo: ele já fez esportes de inverno na Suíça?
Desesperou-se então. Desesperou-se tanto que lhe veio o pensamento feito de duas palavras apenas “Justiça Social.
Que morram todos os ricos! Seria a solução, pensou alegre. Mas – quem daria dinheiro aos pobres?
De repente – de repente tudo parou. Os ônibus pararam, os carros pararam, os relógios pararam, as pessoas na rua imobilizaram-se – só seu coração batia, e para quê?
[...]
O mundo gri-ta-va!!! Pela boca desdentada desse homem.
A jovem senhora do banqueiro pensou que não ia suportar a falta de maciez que se lhe jogavam no rosto tão maquilado.
[...]
Teve vontade de gritar para o mundo: “Eu não sou ruim! Sou um produto nem sei de quê, como saber dessa miséria de alma.”
[...]

Tomava plena consciência de que até agora fingira que não havia os que passam fome, não falam nenhuma língua e que havia multidões anônimas mendigando para sobreviver. Ela soubera sim, mas desviara a cabeça e tampara os olhos. Todos, mas todos – sabem e fingem que não sabem. E mesmo que não fingissem iam ter um mal-estar. Como não teriam? Não, nem isso teriam.
[...]
Eu sou o Diabo, pensou lembrando-se do que aprendera na infância. E o mendigo é Jesus. Mas – o que ele quer não é dinheiro, é amor, esse homem se perdeu na humanidade como eu também me perdi.
[...]

Nunca mais seria a mesma pessoa. Não que jamais tivesse visto um mendigo. Mas – mesmo este era em hora errada, como levada de um empurrão e derramar por isso vinho tinto em branco vestido de renda. De repente sabia: esse mendigo era feito da mesma matéria que ela. Simplesmente isso. O “porquê” é que era diferente. No plano físico eles eram iguais. Quanto a ela, tinha uma cultura mediana, e ele não parecia saber de nada, nem quem era o Presidente do Brasil. 
[...]
Eu – estou brincando de viver. No mês que vem ia a New York e descobriu que essa ida era como uma nova mentira, como uma perplexidade. Ter uma ferida na perna – é uma realidade. E tudo na sua vida, desde quando havia nascido, tudo na sua vida fora macio como pulo do gato"

Clarice Lispector. A Bela e a Fera ou a Ferida Grande Demais. In: A bela e a Fera.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

"Ele está ao meu lado.Então me olha sério,por um instante abalado,diz: Desista,positivamente o cinismo não fica bem em você. E se com essa citação só quer mostrar que já leu Sartres, eu também já li. Por que feri? Por que feriu? Por que estamos dizendo coisas que não sentimos nem queremos?"

Caio Fernando Abreu. Meio Silêncio. In: Caio 3D

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

"Vou  vê-la! Foi esta a minha primeira exclamação desta manhã, quando me levantei e meus olhos procuraram alegremente o Sol. 'vou vê-la!' e durante o dia inteiro, não tive outro desejo. Tudo, tudo foi absorvido por essa espectativa"

Werther. Goethe
"Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao próprio último ou primeiro pesar (...) Então eu canto alto agudo uma melodia sincopada e estridente- é a minha dor, eu que carrego o mundo e há falta de felicidade"

Clarice Lispector. In: A Hora da Estrela
"Desculpa, digo, mas se eu não tocar você agora vou perder toda a naturalidade, não consegui fazer mais nada, não tenho culpa, estou apenas me sentindo sem controle, não me entenda mal, não me entenda bem, é só estava  com vontade quase simples de estender o braço e tocar em você"

Caio F. Abreu. Anotação Sobre uma Amor Urbano. In: Caio 3D.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

"Desculpai-me vou continuar a falar de mim que sou meu desconhecido, e ao escrever me surpreendo um pouco pois descobri que tenho um destino. Quem já não se perguntou: Sou um monstro ou isso é ser uma pessoa?"

-Clarice Lispector. A hora da Estrela

Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.



Carlos Drummond de Andrade