sábado, 31 de dezembro de 2011

"Na semana seguinte já estávamos nus debaixo de sua manta de lã, ouvindo seus discos. 'Se houver prazer, melhor ainda', disse minha avó. 'Mas esse prazer é raro.' Principalmente  rápido, descobri e me abria inteira para fazê-lo feliz porque ele ficava feliz. Queria vê-lo esgotado, queria que seu corpo harmonioso e rijo desabasse amolecido ao lado do meu tão tenso. Com medo de vê-lo me afastar de repente, desativado. Desinteressado. Quando esse medo foi diminuindo, começou a crescer o prazer. Ele notou a mudança, meu gozo não era mais submissão. Agora me entregava com tanto amor que precisava me conter para não cair em pranto, Eu te amo, eu te amo! 'Se gosta de chorar, pode chorar, Aninha. Não fica com vergonha não', seu hálito soprava ao meu ouvido. E montava em mim com o mesmo fervor escaldante que montava em sua motocicleta, tinha uma moto Italiana. 'Quero que faça comigo tudo o que tiver vontade de fazer, chorar, rir, andar no arame, já experimentou andar num arame? Andei num, sabe que é simples'."

Lygia Fagundes Telles. O Espartilho. In: A Estrutura da Bolha de Sabão

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