quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

"Ouvindo viver por trás das janelas o mundo e os homens, dos quais se sente excluído, mas não se mata porque um resquício de fé lhe diz que esse sofrimento, essa triste dor terá de ser sorvida até o fim em seu coração e que desse sofrimento é que lhe virá da morte"

Hermann Hesse. In: O Lobo da Estepe.

Comentário: Quando li esse trecho, imediatamente lembre dos seguiste versos de Fernando Pessoa/ Álvaro de Campos:

"[...]
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo."



Fernando Pessoa/ Álvaro de Campos. Tabacaria. In: Quando Fui Outros. 


Em ambos os trechos, é notória a  relação de estranhamento da natureza humana, o sentimento de não pertencer a esse ou qualquer outro lugar no mundo, por serem sujeitos que 'descobriram' a realidade e sofrem por não poderem levar a vida na grande marcha dos que caminham com o tempo de olhos fechados.
Em nota do editor, narrador-personagem da primeira parte do livro de Hemann Hesse, acrescenta-se o seguinte:


"Contudo, não sou ele, nem levo sua espécie de vida, mas a minha, uma vida medíocre e burguesa, porém segura e cheia de obrigações"


Tais considerações podem ser vistas como a mudança interna dos leitores, motivadas pelo contato com a leitura de tais autores.

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