quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

"Corri para o Rodrigo, abracei-o com força, beijei-o com desespero, Rodrigo, Rodrigo!... Ela já sabe, não quero que mude nada, não quero!
O domingo luminoso. Ele montou na moto. Montei atrás, agarrada na sua cintura, não deixe, meu Deus não deixe ele ir embora! Fez um cumprimento respeitoso na direção do casal de velhos que nos olhou com reprovação. Acelerou o motor. 'Vovó nazista vai ter um impacto com a minha elegância, veja minha gravata é assinada, Jacques Fath!'.
A gravata não fazia sentido com a roupa desbotada nem com os sapatos de andejo, com prováveis furos nas solas. Lembrei-me do primeiro dia em que nos vimos, a capa preta. O guarda-chuva. Fiquei rindo e chorando e beijando seu paletó amarrotado, cheirando a morfo. 'Mas Aninha, o que ela poderá fazer?'."

Lygia Fagundes Telles. O Espartilho. In: A Estrutura da Bolha de Sabão.

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