A grande dama não conta:
ela murmura, fala baixinho. Aproxima-se do leitor como seus gatos, de que ela
gosta tanto. [...] Não se engane com essa sinuosidade felina, felpuda. Não vá
na conversa, não relaxe. Porque, quando você menos espera, as unhas retráteis
aparecem e, logo depois delas, o risco na carne, o filetinho de sangue
escorrendo. Nada muito profundo, mas o suficiente pra incomodar, na hora e por
tempo extenso, cravadas na memória. O suficiente para se lembrar de que, nas
próximas vezes, você não deve se aproximar tão desguarnecido e confiante,
porque o bote pode vir, quando menos se espera, não se sabe de onde. A cada
aproximação, um aprendizado, independentemente do conto que você escolha. Fique
esperto! Não confie no ron-ron de Lygia Fagundes Telles. (p.181-182)
Antônio Dimas. In: Antes do Baile verde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário