"A guerra estava longe, disso eu também sabia. Mas havia os jornais. As revistas. Os documentários nos cinemas. O rádio com aquele locutor histérico metralhando as informações. Milhares de judeus de mãos úmidas estavam sendo massacrados. Lá longe. Chegavam até nós os horrores que aconteciam dentro e fora das cidades mas tudo de mistura com o anúncio de vitórias retumbantes. Derrotas. E os hinos exaltados. As bandeiras. Passei a detestar os jornais. A evitar o noticiário no rádio. Fechei-me no quarto com meus livros. com meus discos. Ouvia música e lia, lia sem para. [...] Nos feriados, metia-me em cinemas com os meus chocolates, mas na hora dos documentários de guerra, fechava os olhos"
Lygia Fagundes Telle. O Espartilho. In: A Estrutura da Bolha de Sabão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário