sexta-feira, 24 de agosto de 2012



“Se Eu Fosse Um Padre”

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,
não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições…
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!
Porque a poesia purifica a alma
… a um belo poema – ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!

Mário Quintana

“Canção Para Uma Valsa Lenta”

Minha vida não foi um romance…
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amar, não digas, que morro
De surpresa… de encanto… de medo…
Minha vida não foi um romance
Minha vida passou por passar
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.
Minha vida não foi um romance…
Pobre vida… passou sem enredo…
Glória a ti que me enches de vida
De surpresa, de encanto, de medo!
Minha vida não foi um romance…
Ai de mim… Já se ia acabar!

Mário Quintana. 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais - por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia - qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido."

Caio. F. Abreu. In: Caio 3D: O Essencial da década de 70.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012


"
e amanhã não desisto. Te procuro em outro corpo, Juro que um dia te encontro 
Não temos culpa. Tentei. Tentamos".


Caio. F. Abreu. Anotações de um amor urbano. In: Caio 3D: O Essencial da Década de 70.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012



"O rosto dele próximo do meu. A sua mão toca no meu ombro, sobe pelo pescoço, me alcança a face, brinca com a orelha, alcança os cabelos. O seu corpo cola-se ao meu. A sua boca vem baixando, vencendo barreiras, colando-se à minha, de leve, tão de leve que receio um movimento, um suspiro, um gesto, mesmo um pensamento. Ele me abraça, ele está perto. 
Ergue o braço lentamente, afunda as mãos nos cabelos. E de súbito um vento mais frio os faz encolherem-se juntos, unidos no mesmo abraço, na mesma espera desfeita, no mesmo medo".

Caio. F. Abreu. Meio Silêncio. In: Caio 3D: O Essencial da Década de 70.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012


"Vamos chorar juntos, baixinho. Por ter sofrido e continuar tão docemente. A dor cansada numa lágrima simplificada. Mas agora já é desejo de poesia, isso eu confesso, Deus. Durmamos de mãos dadas. O mundo rola e em alguma parte há coisas que não conheço". (p. 30)

Clarice Lispector. In: Perto do Coração Selvagem

"Não se preocupe mais, somos todos normalmente loucos. Fingimos até uma loucura maior, mas não tem importância, faz parte do sistema, é preciso. De vez em quando, dá aquela piorada, e piora mesmo, que diabo! E daí?" (p.27)

Lygia Fagundes Telles. A Testemunha. In: A Estrutura da Bolha de Sabão. 

"Eles me rotularam me analisaram jogaram mil complexos em cima de mim problemas introjeções fugas neuroses recalques traumas e eu só queria uma coisa limpa verde como uma folha de Malva"



Caio F. Abreu. A quem interessar possa. In: Caio 3D: O Essencial da Década de 70. 


"Quem foi que fez o mundo assim horrível às vezes quando ainda valia a pena eu ficava horas pensando que podia voltar tudo a ser como antes muito antes dos edifícios dos bancos da fuligem dos automóveis das fábricas das letras de câmbio e então quem sabe podia tudo ser de outra forma depois de pensar nisso eu ficava alegre quem sabe quem sabe um dia aconteceria mas depois pensava também que não ia adiantar nada e tudo começaria a ficar igual de novo"


Caio F. Abreu. A quem Interessar Possa. In: Caio 3D: O Essencial da Década de 70.